15/03/2016

Peça do mês de março

O Museu Nacional de Arqueologia (MNA) possui um acervo de muitos milhares, na verdade centenas de milhares, de objetos. Provêm eles de intervenções arqueológicas programadas ou de achados fortuitos, mas também de aquisições, tendo sido incorporados por iniciativa do próprio Museu ou por depósito ou por doação de investigadores e colecionadores.
Todos os períodos cronológicos e culturais, e também todos os tipos de peças, desde a mais remota Pré-História até épocas recentes, neste caso com relevo para as peças etnográficas, estão representados no MNA. Às coleções portuguesas acrescentam-se as estrangeiras, igualmente de períodos e regiões muito diversificadas.
O MNA é ainda o museu português que possui no seu acervo a maior quantidade de peças classificadas como “tesouros nacionais”.
No entanto, há ainda espaço para receber exposições temporárias com bens culturais, alguns de cariz único, cedidos por outras instituições.
Existe, pois, sempre motivo de descoberta no Museu Nacional de Arqueologia e é esse o sentido da evocação que fazemos, em cada mês que passa.

PEÇA DO MÊS COMENTADA
Altar romano dedicado a Arantius Tanginiciaecus
(proveniente do Museu Francisco Tavares Proença Júnior, n.º inv. 29.1 MFTPJ)
A apresentar por José d’Encarnação
19 de março de 2016, às 15h30


Proveniente de uma área (a actual Beira Interior) onde persistem muitos vestígios da religiosidade indígena, este altar vai permitir-nos reflectir sobre a aculturação religiosa, uma das mais sábias atitudes que a política organizativa dos Romanos soube adoptar.
Trata-se, por outro lado, de uma divindade especial, porque se venerou sob diversos epítetos e o seu nome não apresenta grafia uniforme, a mostrar não apenas o amplo leque de agregados populacionais que lhe solicitou protecção, como também a influência da linguagem falada, num momento em que se processava, de facto, essa lenta interpenetração entre o Latim e as línguas indígenas.
A influência, aceite, da estética romana revela-se, ainda, na tipologia do monumento e no modo de gravação do texto.
Em suma, uma observação mais atenta deste altar possibilitar-se-á melhor compreensão do que resultou – em termos culturais, políticos e sociais – da convivência pacífica entre Romanos e povos indígenas. Um aspecto em que os estudos epigráficos continuam a revelar-se como fonte histórica primordial.

José d’Encarnação




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