14/02/2017

Dia dos namorados



Comemorando o Dia dos Namorados, o MNA apresenta um Lenço de Namorados, da sua pequena, mas interessante coleção de Têxteis. Com o Nº de Inventário ETNO 7028, está disponível on-line através do programa MatrizNet, tendo integrado a exposição “O Ponto de Cruz – a grande encruzilhada do Imaginário” realizada pelo Museu de Arte Popular em 1998.
Trata-se de um lenço em tecido de algodão branco, bordado a ponto de cruz com fios de cores vermelha e azul.
Apresenta ao centro e nos quatro cantos flores e elementos geométricos estilizados, de simbologia amorosa: custódias, cruzes, par de namorados, pombas, cão. Os pombos têm sido identificados como um símbolo do amor e da devoção desde tempos imemoriais, fazendo parte da mitologia grega e romana. 
Numa das lendas, conta-se que a deusa do amor e da fertilidade, Afrodite/Vénus, nasceu numa carruagem puxada por pombas. 
A associação da pomba a Vénus, deusa do amor, é também referida na obra «Sátiras» do poeta e retórico romano dos séculos I-II d.C. Juvenal (VI, 548-552).
Ainda segundo o mito, as Plêiades, que eram sete irmãs, filhas de Atlas, um titã condenado por Zeus a sustentar o céu, e de Pleione, filha do titã Oceano e protetora dos marinheiros, foram transformadas por Zeus em pombas que as colocou no Céu, entre as estrelas, para protegê-las das incansáveis investidas amorosas de Órion. Conotada com a pureza e a simplicidade, é a ave que, no Antigo Testamento, leva o ramo de oliveira a Noé, como símbolo de paz, harmonia, esperança e felicidade. No Novo Testamento simboliza o Espírito Santo.
A pomba aparece sempre ligada à ideia de mensageira e existem várias referências de escritores da Antiguidade Greco-romana aos pombos correio, designadamente em Aristóteles e Plínio, conhecendo-se a existência de pombais fixos e móveis do período romano, pois eram já usados na estratégia militar de suas legiões.
No caso presente, os pombos são, efetivamente, os mensageiros do Amor.
O cão, embora de simbologia milenar, surge-nos aqui muito possivelmente associado à ideia de fidelidade e lealdade, pois é guardião e protetor.
Por sua vez, as silvas também estão associadas na Antiguidade ao amor de Afrodite/Vénus com Adónis. 
Ares/Marte, o deus da Guerra e amante de Vénus não suportou ser atraiçoado e, por esse decide atacá-lo enviando um javali que lhe desferiu um golpe mortal. Também a Mitologia nos diz que que quando Afrodite viu Adónis ferido, pairando sobre a morte, a deusa foi socorrê-lo, tendo-se picado num espinho e seu sangue coloriu as rosas que lhe eram consagradas.
Muito possivelmente aqui representarão as provações do amor.
Rodeando o elemento central do lenço de namorados foi inscrita uma primeira quadra: " BAI LENCO. BEMTOROSO / AMA O. DOMEU. BEM PARAR BAI LENCO. POSSUIROR / UE LV NAO. POS. O LUCAR. Uma segunda quadra é inscrita junto à bainha: " BAI TE. LENCO. BENTUROSO / RESPONDE SAUEFALARPRE / CUNNTAPELA. SAUD. QUE. ISTA / NO PRIMEIRO LOCARNI." Os cantos estão preenchidos com albarradas floridas e silvas. Terminam com bainha decorada com motivos em zig-zag.

Ana Isabel Santos e Filomena Barata

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