05/04/2017

Primavera em Figurado de Barro de Estremoz, Nº de Inventário 3708

As coleções etnográficas do Museu Nacional de Arqueologia, refletem na sua origem, constituição e organização, a própria história do Museu que no seu conceito fundacional se designou, ainda que por breves anos, por Museu Etnográfico Português, muito embora a componente arqueológica tivesse sido dominante desde o início. E se, no programa inicial de 1893-1894, se haviam consagrado apenas duas secções – a Arqueológica e a Moderna – uma terceira é muito precocemente acrescentada – a de Antropologia Física.

A riqueza e diversidade das Coleções Etnográficas oriundas maioritariamente do território português - continental e insular, mas também das antigas ex-colónias, é bem patente nos sucessivos programas museológicos do Museu de José Leite de Vasconcelos, onde foram ganhando protagonismo crescente e permitiram cumprir o mais elevado e ansiado propósito do Fundador, o da criação de um “Museu do Homem Português”.

O Museu Nacional de Arqueologia dará conta do seu acervo etnográfico que,embora nem sempre visitável, continua a ser objeto de estudo sistemático e aturado, retomando assim o espírito que esteve na sua vocação inicial.


Na fotografia: 
Primavera em Figurado de Barro de Estremoz,
 Nº de Inventário 3708. 

Figura feminina de pé, assente em base retangular. Apresenta-se vestida com uma saia curta e rodada deixando a descoberto as pernas robustas e direitas. Os braços desenham dois pequenos arcos com as mãos repousando sobre a cintura. Na cabeça exibe um chapéu colocado ligeiramente de lado, coroado por flores. Um arco florido elevado, constituído por um arame no qual estão colocadas 12 flores estilizadas, parte dos ombros e remata a composição. Na base apresenta uma legenda com a indicação da sua provável barrista e da data de aquisição: “Gertrudes Rosa Marques. Maio de 1915”
Alguns autores consideram que estas representações são figuras de Entrudo anunciando a proximidade da Primavera.
Associada à Primavera, era Clóris, divindade de origem grega das flores, equivalente à ninfa de origem latina Flora, que deriva da palavra latina flos (flores). 
Floralia era o festival romano realizado em honra à deusa Flora, para consagrar as florações da Primavera. Sabe-se que, em 238 a.C, foi construído em Roma um templo em honra de Flora, dedicado em 28 de abril. 
Flora foi também inúmeras vezes associada à deusa grega Deméter, a Ceres Romana, a divindade dos cereais e da agricultura, e à sua filha Perséfone, a Proserpina romana. 
Mas a associação de figuras femininas com as coroas de flores remonta à mais remota Antiguidade. No Egipto, vemos Ísis, protetora da Natureza, da Maternidade e da Fertilidade associar-se ao hibisco, conhecido também como o "Mimo de Vênus".
Cibele, uma divindade que foi introduzida na Grécia através da Ásia menor, considerada a «Mãe dos Deuses» e que simbolizava a fertilidade da natureza, era a divindade do ciclo de vida-morte-renascimento. Normalmente era representada como uma mulher madura, coroada por muralhas ou flores, nomeadamente rosas, aliás as flores utilizadas para venerar os mortos, bem como espigas de cereais, símbolo da vida, trajando uma túnica multicolorida e com um molho de chaves na mão. 
Mas as flores, designadamente as rosas, eram atributos da deusa do Amor, a Afrodite grega e Vénus romana, e Abril era o mês que lhe era consagrado, havendo quem defenda que o nome deriva exatamente do verbo latino Aperire (Aprilis), que significa o “abrir” das flores, o renascer da natureza. 
Também com a Cristandade as flores são atributos de muitos Santos e Mártires, não podendo esquecer que uma das flores que se lhe associa à Virgem Maria é a Prímula, ou Primavera, que anuncia a estação, sendo o nome conotado com “primeira”, ou seja das primeiras flores a despontar na Primavera. 
Muito provavelmente nesta Primavera de Estremoz estaremos face à sua estilização.

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